sexta-feira, 20 de junho de 2014

I

Talvez seja uma pessoa frágil. Talvez quanto mais queira fugir à voz do meu coração, mais acabo por me entregar a ele. Talvez seja emotiva. Talvez, afinal, sim, queira envolver-me no amor, no carinho, em sentimentos verdadeiros. Mas tudo me magoa, até as próprias nuvens que decidem esconder o sol após um belo dia solarengo e caloroso. As palavras significam tanto para mim. Talvez me envolva demasiado no conforto delas, quando é conforto que elas me proporcionam. Talvez, talvez. Sou uma pessoa indecisa comigo própria, por vezes, pelo simples facto de não querer correr o risco de surpreender alguém pela negativa. Como me preocupo com isso... Não com as aparências, mas com o que vão ver de mim. Não quero que percebam, muito menos que saibam, que sou frágil, sentimentalista, romantista, sensível, incompleta ou indecisa. Quero dar a face da robustez porque não quero que se preocupem comigo, mas também não quero que me deixem. E já me deixaram à fronteira do abismo, quero eu dizer, pediram-me licença para me vendar os olhos e eu até fiz o favor em me oferecer para tal. Somos todos uma cambada de estúpidos, hipócritas, egoístas e truncados. Quanto mais esmolas damos ao pobre mendigo, mais estamos a preencher o nosso ego. Fazemos questão de partilharmos os nossos actos de “serviço público”. Mas muito bem que o fazemos, escusado será coroarmo-nos e idolatrarmo-nos. Quem será mais hipócrita? O que acusa o outro de ser hipócrita ou o que se comporta como tal? Quem será mais egoísta? Aquele que começa por desabafar o que lhe vai na alma ou que acaba por se abrigar nos pecados da sociedade? Ah não, não. Essa sou simplesmente eu. Dou por mim a gargalhar comigo própria; parto côcos à fartazana nesta rotina minha. É engraçado como consigo sentir-me uma moeda de um cêntimo e, de um momento para o outro, a rainha de Inglaterra. Uma apoplexia rotineira. Um paradoxo ordinário. Um eterno dicionário da língua e da gíria portuguesa. Foda-se como custa ambicionar tanto e cansar-me logo disso. Já fui rapariga de traçar imensas metas e não descansar até as alcançar, mas acho que o futuro acabou por me cortar de rente a crista. Caralho, já comecei a culpar o futuro, o gajo nem espírito deve ter! E se tivesse, já se teria enforcado há bastante tempo. Tornei-me numa grande insurrecta. A tentar escrever uma coisa tão bonita e acabo por praguejar. Eis o meu espelho. Eis Lúcifer apresentado: metade anjo, metade diabo. E que mais tenho eu a dizer sobre isto? Não sei. Dou este labirinto por terminado.
Talvez feche para obras.

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