segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Deste lado

Vejo tudo listado.
Dentro destas grades
negras, fúnebres, melancólicas.
Sem qualquer brisa moderada,
desespero nesta morada.
Sou refúgio das térmitas
e de criaturas miniaturas.
Um Ser de simples sopro,
evaporado a cada sufoco
que sofre.
Asfixia invisível e intangível
que se sente a cada inspiração
que se faz.
Cordas que amarram os pulsos,
reclusos,
não de mim.
Silêncio pesado que se esconde
na escuridão,
fora da luz,
dentro de calafrios.
Jardins imaginários
desenhados em cada vontade.
Lápis deslizante
cuja marca se apaga.
Sentimentos que se escrevem,
não se percebem,
só vividos.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Janela

Perdida no tempo estava
quando debruçada
via a chuva dançar,
fugitiva, das nuvens
até ao solo.
Não sei se por mero dolo
ou ignorância,
tentei ilustrar poeticamente o que assistia.
Não sei se por repentina miopia
ou distância,
perdi de vista essa chuva que caía.

Substituída pelo vento,
que sem piedade ou sossego,
atacara meus olhos
numa voraz rajada
exorbitante.
Empurrara-me para dentro,
sem qualquer calma ou timidez,
e por momentos ouvira,
murmurando,
que me acolhesse prontamente.

Mas o que eu queria
era continuar a visionar o mundo,
a paisagem, aquele quadro natural.
Sem receios de texturas
ou de qualquer acontecimento irracional.





Alma cinzenta rosa

O cinzento da tua alma
visível a cada lágrima 
que se arrasta no teu rosto,
frio, gélido, cristalizado...
Conta mais histórias
do que os teus próprios lábios
rosados, pálidos, brochados.
Como uma rosa desfocada,
deslocalizada,
vendida,
perdida.
Como uma rosa suja,
mas de néctar doce
e limpo.
Como uma rosa desconhecida
mas que desperta curiosidade
em ser desvendada,
protegida,
como criança de tenra idade.

A tua alma de cinza
esvoaçante,
bailarina de corações.
Que deixa ecos cerrados
nas maiores multidões.
Como a rosa que se destaca
no meio de todo o roseiral,
por toda a razão
e por razão nenhuma.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Quando era criança

O que é a felicidade
e como posso eu a ter?
viver só da realidade
não é realmente viver...

Quando eu era criança
só pensava em crescer,
corria em mim a esperança
e o futuro eu queria ter.

Via o nascer do dia,
acordava o mais cedo possível,
para mim tudo aquilo era magia
apesar de atingível.

Sonhava poder voar,
não num avião
mas com as minhas próprias asas,
chegar o mais alto no ar,
ver todas as casas.

Como é bonito o mundo
e imperdível a cada segundo,
porque quando somos pequenos
tudo é mais, nada é menos

As pessoas são iguais,
não há diferentes raças, 
só diferente cores.
E é com os demais 
que se vivem diversos sabores.

Mas quando era criança
não sabia que era realmente feliz
e agora o tempo cansa,
não sou só uma mera aprendiz.

O tempo não volta,
o hoje é presente,
quando uma página se solta
ela não volta novamente.

Sentir a felicidade depois que a perdi,
é reviver do passado tudo o que vivi;
tenho a felicidade do meu lado
mas nem sempre lhe dou a mão,
certas coisas cegam-nos de pecado
e a outras dizemos não.

Quando era criança tinha tudo
e muito continuo a ter em mim,
mas só me alimento de memórias,
de coisas que já não são bem assim.

Para mim existiam  fadas, príncipes, princesas;
imensos mares, florestas, riquezas.
Quando era criança tinha a Felicidade
porque não sabia quem era ela
e isso fez-me viver de verdade.

Agora... Só vejo a Felicidade
desenhada numa tela.

domingo, 12 de janeiro de 2014

palavras são monstros

É mesmo assim. Quando parece bom demais para ser verdade, a mentira revela-se. E perguntas: mas dramatizei tanto para quê? Acreditei, mais uma vez, para quê? As pessoas atiram palavras do nada, sem realmente sentirem o verdadeiro significado delas. Pensam nelas, sopram-nas na tua direcção e, mesmo já sabendo tu do que a casa gasta, continuas a deixar-te absorver por elas. Monstros. As palavras são monstros! Daqueles que se transformam constantemente, pois primeiro são como de peluche, todos felpudos e atractivos em que só te apetece andar com eles nos braços, mas que depois se transformam em ogres gigantes (e não idênticos ao Shrek, esse ainda conseguia ser querido) que te sufocam de modo a ficares sem respiração e, depois de já estares presa naquela claustrofobia, abandonam-te ali, sozinha. Pior de tudo não é a vontade que tens de esmagar aquele monstro gigante que se revelou, é mesmo a vontade que tens de ter de volta aquelas palavras anteriores, aquelas que eram monstros felpudos e carinhosos, aquelas que te aqueciam e que te deixavam bem; vontade de voltar a ter aquele conforto de volta. Mas deixaram-te assim: sozinha, sufocada, saudosa. É sempre da mesma forma e nunca aprendes. Acreditas-te sempre, pára de te acreditar! Pára de ser ingénua. Pára de acreditar que há palavras diferentes, vindas de lugares diferentes e que deves valorizar e importar-te com elas... Já sabes como é o habitual, mas mesmo assim deixas-te vendar, deixas-te seduzir, deixas-te dominar e deixas-te ir. E agora ficas a pensar em qual terá sido o problema e no que aconteceu. Vê se pensas também que as mesmas palavras podem surgir e convém prevenires-te, por isso, esconde-te e não te deixes envolver. Palavras ditas não são ripostadas de olhos fechados, abre-os e veste essa armadura de marfim frio que deixaste que te despissem. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

π

O calor das tuas palavras
apodera-se de mim.
Sentir-te como uma temperatura alta
que se congela por fim.

Vontade de erguer o meu corpo no teu
como se fôssemos um só,
cobre-se em mim um véu
que se enlaça em nós.

Sentir-te apenas como uma brisa quente
mas que penetra na minha pele.
O meu coração demente
e o meu corpo doce fel. 

É tão boa a sensação
de que me estás a possuir,
não quero pensar em mais nada
só no que está para vir.

O meu desejo és tu.
E o teu? Sou eu?
Leva-me ao céu.


mais um dia.

sem nada para fazer, decidi escrever. Nada me ocorria.
pensei uma, duas, três vezes e percebi que o meu desejo era escrever uma música. Mas não conseguia.
e mais uma vez (como meu costume) fui deitar-me no sofá a ouvir música, acabando por adormecer.
sonhei com muita coisa; uma mistura de cores, texturas, pessoas, contrastes, sons... Uma autêntica confusão! E muito sinceramente que se reflecte com a minha vida. São muitos os que vão, os que vêm; os que vêm, os que vão;  os que marcam, os indiferentes; os inesquecíveis, as desilusões; os que prometem, os que nada cumprem; os que alimentam a esperança, os que nunca a mencionaram... Bem, grãos e grãos de areia de um vasto areal, que, no entanto, nunca são esquecidos mesmo.
são momentos destes de repouso que me fazem pensar realmente. Rebobinar toda a minha (curta) vida e tudo o que nela se insere. Infinitos são os sorrisos trocados, as carícias partilhadas, as palavras usadas, as lágrimas derramadas, as feridas provocadas, as decisões tomadas. Muita palavra, pouca acção. Muito sonho, pouca concretização... E nunca faltaram amigos, abraços, sorrisos, cansaços, vitórias, derrotas, memórias; mas nada era perfeito. Os amigos não eram os desejados, pois poucos são aqueles que ficam para sempre, poucos são aqueles que nos agarram a mão quando vamos cair, poucos são aqueles que nunca acabam por nos abandonar. E aqueles que o fazem muitas vezes nem se apercebem do que fazem, mais uma ferida começa a gerar-se e a alastrar-se e quem nos ajuda a curá-la tem que encarnar o papel de várias pessoas.
gostava que isso mudasse, pois agora não consigo confiar em outros ou nos mesmos, novamente ou pela primeira vez, porque há ferimentos que doem e que não curam e que irão sempre ser obstáculos ao nosso dia-a-dia. Muito muda, muito fica, nada se pode escolher ou planear. Queria apenas poder voltar a tê-los do meu lado e não voltar (também eu) a errar.