domingo, 8 de maio de 2016

Sobre livros

Adoro rabiscar livros.
Sublinhar linhas a fio, escrever anotações, pintar os espaços em branco das letras.
Acho que lhes dá mais vida, mais história, mais cor.
Mas não os rabisco a todos.
Alguns não precisam de mais estórias para além das suas.
A alguns deixo que mantenham o cheiro a que me acostumaram.
Cheiro a novo, a velho, a mofo; o que for.
A outros rabisco-os só com o meu nome na primeira página.
Porque são meus. Ou então porque quero que àquele que o pegue saiba a sua origem.
Também adoro cheirar os livros.
E começar por ler a sua última folha. Não exactamente por ler mas por rebeldia.
E ver restos de borracha entre as folhas.
Adoro livros de poesia.
Com páginas e páginas quase que vazias, quase que cheias de nada.
Ou então cheias de tudo.
Pequenos ou grandes versos.
Com palavras que bailam entre cada desfolhar.
Adoro emprestar livros. Ou dá-los mesmo que por empréstimo.
Mas em alguns não rabisquei o meu nome e não se sabe a origem.
Ou então esquece-se.
Como muitas coisas que se lêem e outras tantas que permanecem.
Também adoro recordar os motivos desses rabiscos.
Que por vezes são nenhuns.
Mas que acabam, mesmo assim, por serem tantos.