domingo, 19 de julho de 2015

Algazarra

Calou-se a algazarra.
E de toda essa partitura que compus
apenas restaram pautas soltas.
Desapareceu a fanfarra
e a multidão dispersou-se.
O silêncio enfurecia a consciência,
mas o eco alcançava poucos metros
e o sentido das coisas acabava por perder sentido.
Não havia gente,
ainda nenhuma há...
E a algazarra que bailara na minha alma
reiniciou o frenesim.
Mas de ti não vejo sinal.
Eu, que tanto tinha para falar ao teu ouvido.




quinta-feira, 9 de julho de 2015

Uma palavra: saudade

A minha palavra favorita é "saudade",
mas dela reconheço bastantes disparidades,
incompatibilidades e bipolaridades.
Faz-me chorar de alegria,
arranca-me o desespero.
Deixa-me sem qualquer piso,
leva-me ao céu.
Um beijo de saudade é tão melhor, 
o romper da saudade é tão gratificante...
mas a saudade que não se rasga
é de tal maneira ofegante.
Porque há a saudade feliz e a triste.
A saudade que nos aquece e a que nos corrói.
A saudade que nos limpa as lágrimas
e a que dói.
Gosto tanto de dizer saudade,
tanto quanto a detesto sentir.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Penumbra de melancolia

Por quem me tomas, penumbra fria,
se nada de ti quero.
Tu que me sufocas,
tu que me assassinas
tudo o que em mim não é desespero.

Dissolvo-me na angústia,
sem qualquer socorro ou aviso;
encontro-me num escuro sem fundo,
mais profundo do que o abismo.

Porque em lágrimas mergulho
e em lágrimas adormeço,
e após sentir uma afiada espada
no meu peito estremeço.

Por quem me tomas, melancolia,
quando nada quero de ti,
senão desprender-me dessas algemas turvas
que nada em mim esclarecem.

Sou vítima de uma asma que tende em aparecer;
gritos entre surdos
e gestos entre cegos que não querem ver.