quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

És tu, neve?

Cai a neve delicadamente
provocando sorrisos na solidão,
pintando de branco os caminhos,
ilustrando a minha imaginação.

O frio preenche o dia
e esconde-se nos lençóis da minha cama,
corro para a janela ver
o que o Inverno a todos chama.

Véus de seda no jardim,
pequenos flocos flutuando no ar.
Neve branca gelada e tímida,
porque não me vieste antes buscar?

Deitada, abro lentamente os olhos cerrados
e fujo esperançosamente lá para fora.
Mas será que tudo o que anseio e gosto
decide sempre ir embora?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

excusationem

É realmente muito doloroso quando não és capaz de distinguir o certo do errado e, mesmo assim, não conseguires alcançar o que é melhor para ti. E isso é ainda pior quando envolves outras pessoas à tua volta, pessoas que, em altura alguma, pensavas serem tão boas para ti e próximas de ti; capaz de encontrares nelas outra parte de ti, capaz de sentires amor por essa pessoa mas não o mesmo amor que ela sente por ti. Há gente que nós não queremos deixar para trás. Desde aqueles com quem passamos uma efémera noite, àqueles com quem, simplesmente, há uma troca de palavras, no entanto, que te faz querer estar assim mais vezes. Apenas isso. Uma espécie de irmão sem qualquer ligação sanguínea. Com quem partilhas uma ligação sem fios. E queres apenas assim porque, nesse momento, te parece melhor e porque, nesse momento, não consegues fazer com que a história dê uma reviravolta, de maneira a fazeres toda a gente feliz. Todavia, é difícil fazer feliz alguém, quando tu própria não consegues perceber muito bem de onde provém a tua "felicidade" (nunca será totalmente felicidade quando nela continuares a incluir a palavra tristeza e, de algum modo, a senti-la). Sorris noite e dia e estás bem, porém, durante as longas insónias diurnas e nocturnas, todo esse teu negrume interior, outrora encoberto, algema-te em ti própria e não te quer deixar respirar. Nunca tencionei querer perder alguém, nem magoar ninguém. Eu não posso pedir para ser quem não sou, mesmo apesar de não saber bem quem sou. Tanto faço com que me saúdam, como com que imediatamente se despeçam. Tanto contribuo para a felicidade de alguém, como, logo de seguida, sou o que motiva a sua tristeza. Sou assim tão paradoxal? Tão irritantemente feita de contrariedades? Tão sim que tão não? Não sou boa pessoa mas, a maioria das coisas que faço, são sem má intencionalidade. Esta minha querela interior nunca terminará... só tenho pena de ter incluído alheios, que estiveram próximos e voltam a estar longe, apesar de serem estes os melhores meios.

Tu nem sabes

Tu nem sabes, mas por pouco até te amei. Amei essa tua rebeldia involuntária. Amei esse teu sorriso fugitivo. Amei essas tuas mãos atrevidas. Amei esse teu olhar furtivo. Distribuí polícias de choque à paisana e amuralhei-me de espinhos. Mas, graciosamente, como sempre, foste capaz de escapar. Capaz de me alcançar. Capataz rapaz capaz: perito no ataque. Esfomeado de mulher. Ávido de prazer. Por que comigo foste ter? Com que descaramento foste capaz de pegar na minha mão e me afogares nos teus olhos? Nesses teus olhos verdes, tão cheios de nada e tão vazios de tudo. Nesse teu primeiro plano do quadro da tua vida, que tão curiosamente me fez ir. Nessa tua voz despida de enganos e promessas, só de aventuras e enredos. Que tanto me fazia libertar dos meus medos. Que tanto me despertava para te libertar também.Conseguia saber quem eras mesmo sem te conhecer. E apesar de todos os teus defeitos conseguir ver, mais me faziam de ti querer desfrutar. Desde o momento que te vi, por mais céptica que seja relativamente a filmes de amor à primeira vista, posso assegurar-me que, sem fósforos ou isqueiros, uma chama se acendera prepotente. E chama que arde não mente.Sabia que me ias largar. Sabia que era tudo bluff. Todo um jogo sujo, estudado e preparado. Mas uma mulher acredita sempre. Uma mulher acredita sempre que consegue ser a responsável atrás das câmaras. Acredita que consegue fazer a diferença e que consegue fazer com que seja diferente. Já são mais que evidentes as provas contra...

Tu nem sabes, mas por pouco até sonhei. Sonhei que o previsível fosse improvável. Sonhei que o provável fosse imprevisível. Sonhei que o inesperado fosse permanente. Devaneei. E amei. Se calhar amo. Posso não morrer de amor, mas morro de saudade... Ao som amargo e dissonante de um piano.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O melhor ainda está para vir

Que manhã fria estava. A janela desenhava todo um nevoeiro intenso, pincelado pelo calor saído da minha boca, gerando-se um forte choque térmico quando a minha mão tocara no gelado vidro da janela, causando um arrepio crescente que prosseguia pela minha pele. Apenas vira passar uma pessoa pela rua, passeando o seu cão; as restantes deveriam ainda estar a lamentar-se pelo inconveniente toque do despertador que os expulsava do paraíso dos sonhos.
Desta vez acordara bem antes do normal, considerando que normal, no primeiro dia de férias, seria acordar depois das dez horas matinais, sem qualquer compromisso com outrem. Bem, na verdade, o meu marcador somático alertava-me para o seu irrecusável, inadiável, indispensável encontro com uma grande e saborosa caneca de chocolate quente, acompanhada por um pão recheado de compota de frutos silvestres. Daí talvez ter acordado bem antes das oito horas de uma segunda-feira. E, já deliciando o meu chocolate, o meu cliché cerebral recomeçara... "como o tempo passa rápido". Ugh, como esta reunião de palavras me atordoa a cada momento zen do dia... deixando-me uma vontade de protestar com o Rui Veloso e o seu "passa o tempo devagar"... Não, meu caro, pelo menos não o meu. Não gostaria, por ventura, fazer uma troca ou uma espécie de time test drive? É que ultimamente (e talvez aconteça realmente só comigo, quem sabe) até mesmo a fazer o que considero mais aborrecido ou que menos gosto, o tempo faz questão de correr a maratona, e nu!, isto porque, estar a vestir um fato apropriado à modalidade, requer uma demora muito grande e, também, porque, tenho que admitir, ele é um rebelde. Não, não tem quaisquer descendências de mim, obviamente.
Tempo... O tempo é chato. É chato porque, apesar da sua flexibilidade, é monótono. E é rebelde. É rebelde porque nos provoca; quando precisamos que seja rápido torna-se vagaroso e quando precisamos que seja demorado é veloz como um tiro. E, mais uma vez, deixou-me desprovida no seu arranque, como se tivesse feito falsa partida, como um batoteiro ávido. E eu não soube ser capaz de sprintar e deixei-o ir, ao estilo cobarde e comodista que tanto desprezo e critico. 
Começo a recordar antigas apologias... quando era mais nova e sonhava ser o braço direito de todos, de fazer todos felizes, de ser inesquecível e lembrada para sempre, de ser, inocente e humildemente, alguém importante para todos. Porém, com o passar, mais uma vez, do tempo, percebi que me tornei demasiado egoísta para isso, ao envolver-me no manto escuro do egoísmo alheio; percebi que nem tudo era tão simples como aparentava ser e anui nessa embriaguez de simplicidade; percebi que era mais uma entre tantos outros e, entre bramidos mudos, tornei-me vulgar.
E o tempo chato não pára e gargalha quando olha para trás e me vê ali a fumegar na minha inquietude... Um dia apanhá-lo-ei desprevenido, a ele e à dona procrastinação, provar-lhes-ei a minha ambivalência e dilacerarei tudo isto que me prende à cadeira, pois nunca é tarde para mudar e se se começa a tornar tardio, uma miríade de forças resplandecerá em mim!