sexta-feira, 22 de maio de 2015

Calafrio

Nem uma brisa ao de leve se esquivava por entre as folhas das árvores, e o céu, manchado de azul, escondia poucos novelos de algodão. Os segundos, marcados pelo relógio, trituravam-me a cabeça à medida que tentava aclarar as ideias, e os pássaros, intervalando com os segundos, chilreavam, numa tentativa de me distrair do silêncio absoluto em que me queria encontrar. O sol aparentava um dia de calor, mas, a brisa que do lado de dentro da minha janela parecia ser inexistente, era, afinal, uma feroz rajada de vento que se entranhava na minha pele e (curiosamente?) no meu estômago. 
Como é diferente o que vemos em perspectivas divergentes, ou, como é diferente a visão dos outros e que nos é transmitida. Como nos cegam os sentimentos e como nos calam as brutalidades. Por vezes, bastava uma mão, uma palavra, um abraço, porém, quando abrimos a janela e a realidade é desenhada de outro modo, tudo rui, tudo se desmonta, o tecto desaparece, o coração transpira... a vista transpira. Não conheço mais do que o reflexo, já nem sei de que provém esta pele de galinha constante. 
O vento faz dançar as árvores e a mim faz-me estremecer. Já não há folhas no chão, novas renasceram nos ramos. Mas há uma folha que anda ainda algures por aí. Flutua e cai. E flutua... e flutua... 

sábado, 9 de maio de 2015

treze

Na longitude encontrei o meu cansaço
e na tua ausência
a razão do meu desassossego.
Sentir-me segura apenas no teu abraço,
faz-me cair, súbita,
sem o teu apego.

E das amarras que não me desenhaste
não me quero desprender,
nem sequer me despedir.
Nesse primeiro beijo que traçaste,
acabei por tropeçar
e por me despir.

Por isso custa lembrar o teu sabor,
pregar-me no silêncio
e não te ter por perto.
Por mais sabendo que não é amor,
é uma construção ascendente,
com felicidades, angústias e aperto.

Ansiar-te nem que por meros momentos,
como se toda uma vida
se contemplasse apenas num minuto.
Sentir que te tenho em todos os tempos,
mesmo que seja apenas um em muitos;
basta-me pouco quando não pode ser tudo.