sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O melhor ainda está para vir

Que manhã fria estava. A janela desenhava todo um nevoeiro intenso, pincelado pelo calor saído da minha boca, gerando-se um forte choque térmico quando a minha mão tocara no gelado vidro da janela, causando um arrepio crescente que prosseguia pela minha pele. Apenas vira passar uma pessoa pela rua, passeando o seu cão; as restantes deveriam ainda estar a lamentar-se pelo inconveniente toque do despertador que os expulsava do paraíso dos sonhos.
Desta vez acordara bem antes do normal, considerando que normal, no primeiro dia de férias, seria acordar depois das dez horas matinais, sem qualquer compromisso com outrem. Bem, na verdade, o meu marcador somático alertava-me para o seu irrecusável, inadiável, indispensável encontro com uma grande e saborosa caneca de chocolate quente, acompanhada por um pão recheado de compota de frutos silvestres. Daí talvez ter acordado bem antes das oito horas de uma segunda-feira. E, já deliciando o meu chocolate, o meu cliché cerebral recomeçara... "como o tempo passa rápido". Ugh, como esta reunião de palavras me atordoa a cada momento zen do dia... deixando-me uma vontade de protestar com o Rui Veloso e o seu "passa o tempo devagar"... Não, meu caro, pelo menos não o meu. Não gostaria, por ventura, fazer uma troca ou uma espécie de time test drive? É que ultimamente (e talvez aconteça realmente só comigo, quem sabe) até mesmo a fazer o que considero mais aborrecido ou que menos gosto, o tempo faz questão de correr a maratona, e nu!, isto porque, estar a vestir um fato apropriado à modalidade, requer uma demora muito grande e, também, porque, tenho que admitir, ele é um rebelde. Não, não tem quaisquer descendências de mim, obviamente.
Tempo... O tempo é chato. É chato porque, apesar da sua flexibilidade, é monótono. E é rebelde. É rebelde porque nos provoca; quando precisamos que seja rápido torna-se vagaroso e quando precisamos que seja demorado é veloz como um tiro. E, mais uma vez, deixou-me desprovida no seu arranque, como se tivesse feito falsa partida, como um batoteiro ávido. E eu não soube ser capaz de sprintar e deixei-o ir, ao estilo cobarde e comodista que tanto desprezo e critico. 
Começo a recordar antigas apologias... quando era mais nova e sonhava ser o braço direito de todos, de fazer todos felizes, de ser inesquecível e lembrada para sempre, de ser, inocente e humildemente, alguém importante para todos. Porém, com o passar, mais uma vez, do tempo, percebi que me tornei demasiado egoísta para isso, ao envolver-me no manto escuro do egoísmo alheio; percebi que nem tudo era tão simples como aparentava ser e anui nessa embriaguez de simplicidade; percebi que era mais uma entre tantos outros e, entre bramidos mudos, tornei-me vulgar.
E o tempo chato não pára e gargalha quando olha para trás e me vê ali a fumegar na minha inquietude... Um dia apanhá-lo-ei desprevenido, a ele e à dona procrastinação, provar-lhes-ei a minha ambivalência e dilacerarei tudo isto que me prende à cadeira, pois nunca é tarde para mudar e se se começa a tornar tardio, uma miríade de forças resplandecerá em mim!


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