Creio
que o que custe não seja estar só, fazer parte da solidão. Creio
que o que custe não seja estar sozinho. O que custa é o
sentirmo-nos sós, é o sentirmos solidão, é o sentirmo-nos
sozinhos. É o sentimento que custa. É agradável ir à beira-mar e
deitarmo-nos na areia húmida a olhar o céu e a ouvir o mar e todo o
ambiente balnear. É agradável abrir a janela e sentirmos a primeira
brisa da manhã. O que custa é sentirmos que não fazemos falta. O
que custa é saber que poderíamos fazer essas coisas acompanhados. O
que custa é a dependência formada da necessidade de partilharmo-nos
com alguém. O que custa é o hábito criado da presença de alguém.
O que custa é a rotina que se formou na mais simples das
simplicidades. O que custa é saber que se era e depois ser-se nada
do nada. O que custa é ser-se a peça do puzzle cuja metade está em
falta E saber disso. Talvez se víssemos todas as outras peças sem
par não fazia diferença, não se sabia que, afinal, havia o
encaixe, não se denominaria de puzzle sequer. Mas vimos que sim.
Sabemos que sim. E é isso que mais custa: saber. Mas ninguém quer
viver na ignorância. E é o cego aquele que mais quer ver.
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