domingo, 4 de maio de 2014

O enredo da solidão

Creio que o que custe não seja estar só, fazer parte da solidão. Creio que o que custe não seja estar sozinho. O que custa é o sentirmo-nos sós, é o sentirmos solidão, é o sentirmo-nos sozinhos. É o sentimento que custa. É agradável ir à beira-mar e deitarmo-nos na areia húmida a olhar o céu e a ouvir o mar e todo o ambiente balnear. É agradável abrir a janela e sentirmos a primeira brisa da manhã. O que custa é sentirmos que não fazemos falta. O que custa é saber que poderíamos fazer essas coisas acompanhados. O que custa é a dependência formada da necessidade de partilharmo-nos com alguém. O que custa é o hábito criado da presença de alguém. O que custa é a rotina que se formou na mais simples das simplicidades. O que custa é saber que se era e depois ser-se nada do nada. O que custa é ser-se a peça do puzzle cuja metade está em falta E saber disso. Talvez se víssemos todas as outras peças sem par não fazia diferença, não se sabia que, afinal, havia o encaixe, não se denominaria de puzzle sequer. Mas vimos que sim. Sabemos que sim. E é isso que mais custa: saber. Mas ninguém quer viver na ignorância. E é o cego aquele que mais quer ver.



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