sexta-feira, 22 de maio de 2015

Calafrio

Nem uma brisa ao de leve se esquivava por entre as folhas das árvores, e o céu, manchado de azul, escondia poucos novelos de algodão. Os segundos, marcados pelo relógio, trituravam-me a cabeça à medida que tentava aclarar as ideias, e os pássaros, intervalando com os segundos, chilreavam, numa tentativa de me distrair do silêncio absoluto em que me queria encontrar. O sol aparentava um dia de calor, mas, a brisa que do lado de dentro da minha janela parecia ser inexistente, era, afinal, uma feroz rajada de vento que se entranhava na minha pele e (curiosamente?) no meu estômago. 
Como é diferente o que vemos em perspectivas divergentes, ou, como é diferente a visão dos outros e que nos é transmitida. Como nos cegam os sentimentos e como nos calam as brutalidades. Por vezes, bastava uma mão, uma palavra, um abraço, porém, quando abrimos a janela e a realidade é desenhada de outro modo, tudo rui, tudo se desmonta, o tecto desaparece, o coração transpira... a vista transpira. Não conheço mais do que o reflexo, já nem sei de que provém esta pele de galinha constante. 
O vento faz dançar as árvores e a mim faz-me estremecer. Já não há folhas no chão, novas renasceram nos ramos. Mas há uma folha que anda ainda algures por aí. Flutua e cai. E flutua... e flutua... 

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