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Sever do Vouga |
Não te escondas e abraça-me.
Abraça-me por me quereres,
abraça-me por sentires frio,
abraça-me por sentires medo desse calafrio
que sentes ao não me abraçar.
E olha-me os olhos.
Olha-me e lê a minha alma,
sente os meus sentidos,
ouve o meu silêncio.
Porque quando estou contigo,
pulsa mais rápido o meu sangue
que um suspiro pelas torrentes das águas.
Muitas histórias que traças,
traças apoderam-se do teu papel
e devoram até muitos dos pensamentos
que achavas irrevogáveis.
E há medida que vais escrevendo,
e depois lendo,
percebes que mal nenhum teria
se retocasses algumas arestas.
Mas o que interessa alterar o passado,
passado que é presente,
presente que se tornou no agora?
Para tudo há uma hora.
Envolva felicidade ou tristeza.
Há muito que não fica e há muito que se lembra;
e, nessas palavras,
encontro escarrapachado e escondido,
o que fui, o que sou e o que virei a ser.
Deixou nada mais que silêncio.
Também deixou uma nódoa
que se esconde no Tempo.
Ficou um sabor azedo ao relento
e uma fadiga delinquente
que por flagelo reaparece.
Um resto dessa tinta por usar
de um frasco remendado sem concisão
que se esquece numa gaveta escangalhada.
Espelhou reflexos neutros e amarguras
sem se acusarem na exacta altura
que se tornaram tão claras e cruas.
Nó na garganta
nó no estômago
que silêncio ruidoso.