Entre as arestas que ergueram esta
casa, descobri, em mim, um ímpeto interesse em me descobrir. De
perceber quantos pincéis, afinal, e quantas cores fizeram parte da paleta e deste retrato, que se desmancha estilo folha solta de um
caderno, à deriva na rua numa noite chuvosa de Inverno. De saber
mais do que vou sabendo, continuando sem realmente saber. De,
verdadeiramente, ir crescendo sem entender. E foi, também, entre
estes rabiscos que fizeram de mim, que percebi que sou, nada mais
nada menos, do que uma peça anacrónica. Obra singela destacada com
discrição. Sem noção.
Um contrato assinado rasgado é
insignificante, é um desgosto descabido à luz do dia, é um recluso
despido em plena audiência. São novamente postas na mesa as cartas
do baralho: descrença, desconfiança, desprezo, decadência, e tudo
é posto em causa. Como se tudo não se tivesse passado de um mero
jogo de apostas em que eu era bluff, acabando
por perder tudo o que ganhara. E sou obrigada a desmembrar-me da
minha humildade e a encarar-me como a culpada, já que não há mais
alvo nenhum em que acertar.
E vou
todos os dias acordando, com a esperança de que a realidade vire
ficção. Ou vice-versa.
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