Calou-se a algazarra. E de toda essa partitura que compus apenas restaram pautas soltas.
Desapareceu a fanfarra e a multidão dispersou-se. O silêncio enfurecia a consciência, mas o eco alcançava poucos metros e o sentido das coisas acabava por perder sentido. Não havia gente, ainda nenhuma há... E a algazarra que bailara na minha alma reiniciou o frenesim. Mas de ti não vejo sinal. Eu, que tanto tinha para falar ao teu ouvido.
A minha palavra favorita é "saudade", mas dela reconheço bastantes disparidades, incompatibilidades e bipolaridades. Faz-me chorar de alegria, arranca-me o desespero. Deixa-me sem qualquer piso, leva-me ao céu. Um beijo de saudade é tão melhor, o romper da saudade é tão gratificante... mas a saudade que não se rasga é de tal maneira ofegante. Porque há a saudade feliz e a triste. A saudade que nos aquece e a que nos corrói. A saudade que nos limpa as lágrimas e a que dói. Gosto tanto de dizer saudade, tanto quanto a detesto sentir.
Por quem me tomas, penumbra fria, se nada de ti quero. Tu que me sufocas, tu que me assassinas tudo o que em mim não é desespero. Dissolvo-me na angústia, sem qualquer socorro ou aviso; encontro-me num escuro sem fundo, mais profundo do que o abismo. Porque em lágrimas mergulho e em lágrimas adormeço, e após sentir uma afiada espada no meu peito estremeço. Por quem me tomas, melancolia, quando nada quero de ti, senão desprender-me dessas algemas turvas que nada em mim esclarecem. Sou vítima de uma asma que tende em aparecer; gritos entre surdos e gestos entre cegos que não querem ver.