Talvez
seja uma pessoa frágil. Talvez quanto mais queira fugir à voz do
meu coração, mais acabo por me entregar a ele. Talvez seja emotiva.
Talvez, afinal, sim, queira envolver-me no amor, no carinho, em
sentimentos verdadeiros. Mas tudo me magoa, até as próprias nuvens
que decidem esconder o sol após um belo dia solarengo e caloroso. As
palavras significam tanto para mim. Talvez me envolva demasiado no
conforto delas, quando é conforto que elas me proporcionam. Talvez,
talvez. Sou uma pessoa indecisa comigo própria, por vezes, pelo
simples facto de não querer correr o risco de surpreender alguém
pela negativa. Como me preocupo com isso... Não com as aparências,
mas com o que vão ver de mim. Não quero que percebam, muito menos
que saibam, que sou frágil, sentimentalista, romantista, sensível,
incompleta ou indecisa. Quero dar a face da robustez porque não
quero que se preocupem comigo, mas também não quero que me deixem.
E já me deixaram à fronteira do abismo, quero eu dizer, pediram-me
licença para me vendar os olhos e eu até fiz o favor em me oferecer
para tal. Somos todos uma cambada de estúpidos, hipócritas, egoístas e truncados. Quanto mais esmolas damos ao pobre mendigo,
mais estamos a preencher o nosso ego. Fazemos questão de
partilharmos os nossos actos de “serviço público”. Mas muito
bem que o fazemos, escusado será coroarmo-nos e idolatrarmo-nos.
Quem será mais hipócrita? O que acusa o outro de ser hipócrita ou
o que se comporta como tal? Quem será mais egoísta? Aquele que
começa por desabafar o que lhe vai na alma ou que acaba por se
abrigar nos pecados da sociedade? Ah não, não. Essa sou
simplesmente eu. Dou por mim a gargalhar comigo própria; parto côcos
à fartazana nesta rotina minha. É engraçado como consigo sentir-me
uma moeda de um cêntimo e, de um momento para o outro, a rainha de
Inglaterra. Uma apoplexia rotineira. Um paradoxo ordinário. Um
eterno dicionário da língua e da gíria portuguesa. Foda-se como
custa ambicionar tanto e cansar-me logo disso. Já fui rapariga de
traçar imensas metas e não descansar até as alcançar, mas acho
que o futuro acabou por me cortar de rente a crista. Caralho, já
comecei a culpar o futuro, o gajo nem espírito deve ter! E se
tivesse, já se teria enforcado há bastante tempo. Tornei-me numa
grande insurrecta. A tentar escrever uma coisa tão bonita e acabo por
praguejar. Eis o meu espelho. Eis Lúcifer apresentado: metade anjo,
metade diabo. E que mais tenho eu a dizer sobre isto? Não sei. Dou
este labirinto por terminado.
Talvez
feche para obras.
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